No dia 25 de Abril fiz 24 anos. Ia ter direito a uma festa (surpresa) com família e amigos cá em casa, organizada com afinco pelos papás.
Gosto de festejar o meu aniversário, sempre gostei. Este ano estava menos animadita porque as coisas andavam azedas, tínhamos terminado o namoro. Estava determinada a festejar na mesma e resolvi meter-me no carro e ir à queima na noite de 24. Falámos e voltamos a falar ao telemóvel. A Carla viu-me chorar e aturou-me o fado. Decidiste que não ias sair com os teus amigos para o mesmo recinto que eu, mas um telefonema fez-te mudar de ideias.
Sabia que se nos encontrássemos por lá a coisa ia resultar...
Estive com a Ana e com a Joana, diverti-me. E fartei-me de dançar com a Carla, (com a Mónica, a Teresa e outras meninas que não me recordo do nome) ao som do David Fonseca, entre umas visitas às barraquinhas. A noite prometia.
Chegaste e como era de calcular, perdemo-nos num abraço e num beijo, daqueles que fazem parar a agitação à nossa volta. Gostei e sei que também gostaste.
A noite continuava a prometer. Por volta das 5h quis sair, precisava de umas horinhas de sono para aguentar a minha festa (surpresa). Saímos juntos, ainda íamos aproveitar para namorar um bocadito. Comemos um cachorro e discutimos se vínhamos os dois no teu carro e no dia seguinte íamos buscar o meu. Decidimos que não valia a pena.
Íamos a falar ao telemóvel e desligaste, disseste que ias andando, porque eu te pedi aquela surpresa.
Minutos depois, na auto-estrada, ultrapassei um carro, que me apercebi depois estar parado e virado no sentido oposto. Ocorreu-me que podias ser tu, era a mesma cor (?). Não tinha saldo no tmn, enviei-te kolmis, sem resposta. Consegui ligar à Carla do extravaganza, que também não tinha saldo para te ligar. Encostei e desatei a correr, o que me pareceu uma maratona. Isto tudo em segundos. "É ele!", foi assim que desliguei, quando vi um mini e identifiquei a matrícula. Entretanto já outros carros tinham parado e pedido ajuda.
Entrei em pânico quando vi o mini esmagado, respirei quando vi o lugar do condutor quase intacto. Falaste comigo, vieram-me as lágrimas aos olhos! Só te doía o ombro esquerdo e o esterno e estavas mais preocupado com o carro do que contigo. Não sei quanto tempo passou, sei que no meu relógio roçou a eternidade. Vieram bombeiros numa ambulância, que chamaram outro carro de bombeiros e com alicates gigantes que espero não voltar a ver, fizeram do teu carro um descapotável e conseguiram passar-te para a maca, com alguma dificuldade. Começaste-te a mexer e querias ser tu a pôr as pernas em cima da maca, não te deixaram, mas eu sorri ao vê-las em acção. Falaste comigo o tempo todo, embora não te lembres. Queria-te bem acordado. Não me deixaram ir contigo na ambulância, depois de eu ter tentado entregar as chaves do meu carro ao GNR. Disparei em direcção ao meu fiat, ainda cheguei ao hospital antes de ti, não sei bem como, mas cheguei. A Carla já lá estava, porque eu não atendi o telemóvel entretanto.
Telefonei aos teus pais com um nó na garganta.
Entraste para fazer os raio-x, TAC e afins e eu entrei em desespero na sala de espera. A tua mãe veio-nos dizer que tinhas uma costela partida, um pneumotórax e a clavícula fracturada. Mas ias fazer um raio-x à coluna, perguntou-me se mexias as pernas e eu acenei que sim, mas disse-me que as tinhas tolhidas e não urinavas, tinham que te algaliar. O meu chão, que escasseava, deixou de existir. Sei que era um dos teus traumas ficar numa cadeira de rodas, e disseste-me mais tarde que só te lembras de acordar no momento em que te explicavam que te iam fazer um exame à coluna, e choraste. Desejei estar no teu lugar várias vezes, juro que sim. Mas naquele momento mais do que nunca. Que agonia.
Mas foi só um susto. Ficaram a costela e a clavícula fracturadas para contar a história. E como diz o teu pai "não sei como não tiveste bilhete para o outro lado". Acreditas que foi a tua avozinha que estava lá contigo.
O carro teve bilhete directo para a sucata e no teu lugar existia uma redoma.
A vida é irónica.
E se eu não te tivesse telefonado? Se calhar não ias.
E se não nos tivéssemos reconciliado? Se calhar tinhas ficado a dormir em casa do teu amigo.
E se eu não te pedisse nada? Se calhar vinhas mais devagar. (Disseram-te que não foi velocidade.Mas e se foi?)
E se eu fosse contigo no mesmo carro? Não te lembras de nada, mas se adormeceste, eu não tinha deixado.
E se foi problema mecânico e eu estivesse lá? Já não estava cá para contar.
E se?...
Não adianta pensar nos "se". "Deus escreve direito por linhas tortas", diz o povo. Se foi Deus, a tua querida avó ou pura sorte, não sei.
Sei só e apenas uma coisa, agradeço do fundinho do meu coração estar aqui e estares aqui.
Dizem que estes momentos mudam a visão que uma pessoa tem da vida. Sempre pensei que a vida tinha que ser aproveitada ao segundo. Agora sei que a quero aproveitar contigo. Vamos discutir muitas e muitas vezes na mesma, de certeza, casmurros. Não foi o acidente que nos aproximou, feliz ou infelizmente a reconciliação foi antes. Mas quando te vi naquele carro só desejei ser eu e isso já diz alguma coisa, não?...
(Aniversários há muitos, espero eu. Espero também que não se repitam no hospital:P)
6 comentários:
Que dia meu amor... felizmente foi só um susto. Não tenciono voltar a repetir nada disto, senão, quem vai parar ao outro lado sou eu com um ataque cardíaco. Estes tempos têm sido de grandes emoções, mas, estive a pensar... se quando uma pessoa se ri muito, acontece sempre algo mau a seguir, porque é que não se ha-de passar o contrário? Agora, faxabor de dar muito mimo a esse menino que grandes acontecimentos se aproximam! (se não estão já perto, deviam.)
Que história a vossa!!! As melhoras rápidas para ele. Beijinhos
Bem, espero que esteja tudo bem agora...
Apreoveita ao máximo todos os momentos com esse teu amor...
Acredita que a felicidade não é tão dificil de se encontrar como toda a gente pensa...
Beijinhos
Bem.. que cena!
A vida tem mesmo que ser aproveitada ao segundo! E eu que a desaproveito tanto!
(Adorei descobrir este blogue. Obrigada, Ana.)
Estou pasmada...incrédula... estou desde o dia dos teus anos para te mandar um mail e (tonta) adiei e adiei pk tenho andado afundada em trabalho (não é razão...há sempre tempo). Desculpa!
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